Delimitação
territorial para provável batalha terrestre-fluvial:
Voltando à discussão em
torno da origem do topônimo“Campos
de Castanhal”, que é muito antiga, concluímos que ela refere-se,
equivocadamente, a uma área para engorda de
gado. Ora, segundo Rocha Penteado, que sobrevoou a
região de Castanhal antes da devastação, quando a Estrada de Ferro
de Bragança estava em construção existiam capoeirões e matas na
região, mas não campinarana,
ou falsas campinas – uma espécie de pasto natural – como se
propalou anteriormente. A vegetação mais rasteira, que existia, era
a macega,
composta por ervas daninhas. O gado não sobreviveria neste ambiente.
O pesquisador Rubens Lima diz
que a altura que
a vegetação apresentava, quando inexplorada, com exceção da
macega era mais ou menos uniforme e
que atingia a média de 23 metros na região de Castanhal.
Esta paisagem não
poderia prestar, para a pastagem!
1. CARTOGRAFIA FRANCESA
Como já vimos o topônimo
“Campos de Castanhal” deriva de velhos mapas franceses da
região.
Durante a invasão francesa no
Brasil, comandada pelo capitão Daniel de La Touche – o Senhor
de La Ravadière –
houve uma profunda investigação da
costa paraense, sobretudo na região entre dois rios: Gurupi e Capim.
Belém, capital do Pará, teve
como princípio o Forte do Presépio, construído pelos
portugueses para proteção do território contra invasões
europeias. Toda Amazônia era comandada a partir de Belém, região
conhecida como Grão-Pará. Um imóvel, a Casa Rosada, localizado na
Rua Siqueira Mendes, em Belém, foi construída por Mateus José
Simões de Carvalho, da junta extraordinária de defesa do Grão-Pará
contra uma possível invasão francesa.
Pouco tempo após a chegada
dos primeiros portugueses ao litoral brasileiro, os franceses já
marcavam sua presença na região, desde a foz do Rio Amazonas. Tendo
à frente Daniel de La Touche fundaram, em 1612, na atual São Luiz
do Maranhão, uma colônia que chamara de França Equinocial. Dali
seriam expulsos, três anos depois. Em 1616 perderiam seu último
território – o Pará.
Ciente das dificuldades para a
ocupação do Grão-Pará, como a inexistência de caminhos regulares
e seguros, a política filipina (ocupar o Litoral Setentrional nos
reinados de Filipe II, Filipe III e Filipe IV) assumiu como
finalidade principal, por meio da guerra e da colonização, garantir
o monopólio ibérico
na área. Após a expulsão dos franceses, Gaspar de Souza,
governador-geral do Brasil, substituiu Jerônimo de Albuquerque por
Alexandre de Moura que, entre outras medidas, preparou uma expedição
militar para expulsar franceses que se tivessem estabelecido no
Grão-Pará.
Também seguiram na expedição
o piloto Antônio Vicente Cochado e o famoso prisioneiro francês
Charles des Vaux. Este conhecia bem o do território e havia
disseminado a ideia de estabelecer uma colônia entre nós. Sua
estada na região foi facilitada por Jacques Riffault, que fazia
viagens regulares havia alguns anos e que perdera ali um de seus
navios sendo obrigado a deixar parte de sua tripulação. Des Vaux
fez amizade com Uirapive – chefe indígena com quem Riffault tinha
selado aliança – daí o seu grande conhecimento sobre o
território.
Os franceses, que visitavam
Bragança desde 1613, traçaram mapas geográficos detalhados e
aplicaram a nomenclatura cartográfica da
época: para sinalizar área às proximidades de curso d’água
usavam o termo “campo”(champ),
com a sinalização para campo
de batalha,
uma vez que a finalidade da demarcação cartográfica era,
primordialmente, militar.
“Le
Champ de Bataille Castanhal”,
“Champ
Militaire Castanhal”
ou simplesmente “Le
Champ de Castanhal”
em verdade era uma referência mapeada de um ponto estratégico
regional.
Então, “Campos de
Castanhal” foi uma delimitação territorial, assinalada como
espaço onde poderia ser travada uma provável batalha
terrestre-fluvial. Por isso as referências principais, para
o mapeamento das
regiões, eram rios.
Isto depois serviu de base para acertar os
limites territoriais. Esta disposição deriva da “Carte
de La Partie Septentrionale du Bresil”,
elaborada por um engenheiro de Hidrografia.
Nossa
região foi tomada dos franceses pelos portugueses que, com os mapas
dos inimigos conquistados e ajudados pelos índios Tupinambá,
criaram uma nova topografia onde imprimiram seus próprios topônimos.
Importa
mencionar as obras de João Teixeira Albernaz I, o mais notável
cartógrafo português do Século XVII, de quem se conhece maior
quantidade de cartas, merecendo destaque, desde logo, as vinte e uma
cartas no códice “Livro
que dá rezão do Estado do Brasil”,
de 1626 e os seus atlas do Brasil (1627 e 1631). Seu neto e homónimo,
João Teixeira Albernaz II, foi autor de vária cartografia do
Brasil, entre 1665 e 1681, conforme descreve “PORTVGALIAE MONVMENTA
CARTOGRAPHICA” da autoria de Armando Cortesão e Avelino Teixeira
da Mota (Lisboa, 1960). Deve-se a Jaime Cortesão o interesse
crescente, nos últimos anos, pelas obras dos Teixeiras, explanadas
em vários trabalhos, mas, sobretudo no “Curso de História da
Cartografia, Geografia das Fronteiras do Brasil” e na “História
do Brasil nos Velhos Mapas”.
Existiram
dois projetos de fortificação do Pará, ambos datados de 1773 e da
autoria de João Gronsfeld. Um foi feito pelo método simples e outro
pela forma complexa, incluindo a região adjacente, principalmente os
cursos d’água já que estes dariam suporte ao principal meio de
transporte bélico da época.
(Exraído do livro “A
GRANDE HISTÓRIA”, Origens Cultural Editora)